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O artesanal no âmbito museológico: O crochê sob o olhar das artes

  • Foto do escritor: Priscila Cardoso
    Priscila Cardoso
  • 5 de set. de 2024
  • 3 min de leitura

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O crochê, além de ser uma técnica artesanal milenar e cultural, pode ocupar o espaço de manifestação artística a partir do movimento chamado Yarn Bombing – na qual utilizam as peças de crochê confeccionadas com materiais diversos para revestir postes, árvores, estátuas e outros objetos do espaço urbano/cotidiano para propor alguma reflexão, atraindo a atenção dos transeuntes para algo que já estava despercebido, sendo praticada por artistas com fins variados. Há os que intencionam realizar obras voltadas para as críticas sociais ou políticas e àqueles que, simplesmente, só querem colorir as cidades cinzentas.


Neste contexto, o crochê migra do artesanato – em que possui finalidades específicas e utilitárias desde a concepção até o uso final da peça – para o âmbito artístico – onde o artista se utiliza deste caráter único, singular e criativo do crochê em um novo viés de comunicação e expressão, bem como um meio propicio de questionar e refletir sobre sua cultura e sociedade.


O crochê, como a técnica artesanal que conhecemos nos dias de hoje, só começou a ser desenvolvido a partir do século 16. Na França, esta técnica passou a ser difundida através das freiras, que eram professoras de artes e ensinavam a fazer este tipo de renda delicada, sendo usado em roupas e acessórios. Naquele período, o crochê foi considerado uma atividade para passar o tempo das classes sociais mais abastadas. Mas antes disso, já fazia parte do cotidiano de alguns grupos em tarefas como a criação de armadilhas por ocasião da caça e da pesca ou como decoração em datas comemorativas tais como ritos religiosos, festas, casamentos ou funerais.


Nas décadas subsequentes, o crochê sofreu idas e vindas entre momentos de declínio e popularidade, contudo, nunca se perdeu totalmente. Por isso, vemos no início do século 21, um ressurgimento do interesse na população mais jovem pelas técnicas artesanais, como o tricô e o crochê, e um interesse pelo DIY, abreviação de Do It Yourself, ou seja, do “faça você mesmo”. Essa popularização provocou uma melhoria na qualidade das linhas e no aumento da variedade dos materiais utilizados para confeccioná-las, bem como a saída das técnicas de crochê do ambiente exclusivamente familiar para o público, com a ofertas de oficinas e cursos de capacitações, por exemplo, e apareceu nas passarelas da moda através de estilistas e grandes marcas, como a Dior, Dolce & Gabbana, Jean Paul Gaultier, Chanel, Prada e outras.


Mas, como o crochê virou arte?


O crochê virou obra de arte ou objeto artístico, quando passou por uma ressignificação de sua utilização, sendo conferida à peça artesanal uma nova função, um novo sentido, um novo lugar - sendo inserida em espaços destinados a objetos com um valor considerado artístico. Então, deixa de ser um produto utilitário e vira um objeto artístico, uma obra de arte.


Neste sentido, o crochê artístico é produzido por designers, por artistas plásticos. As agulhas e os fios utilizados sofrem algumas modificações, em tamanho, em espessura. Aqui, seu lugar e emprego já não são mais os mesmos que o do artesanal. Ele está destinado a ocupar espaços como museus, galerias, instituições privadas e até mesmo os espaços urbanos e naturais como, por exemplo, as ruas e o oceano. São atribuídas a este crochê novas funções, entre elas: a de crítica social ou política, a de elemento estético e outras.


Em sua maioria, as obras produzidas em crochê levam o espectador a interação, a sensorialidade, promovendo um encontro ativo e participativo. Sendo assim, para a realização de uma obra de grande porte, os artistas, normalmente reúnem voluntários da localidade em espaços abertos para a execução dos projetos. Algumas obras são tão elaboradas que precisam de um planejamento para os suportes, apoio técnico e até autorização para seu

acontecimento.


Entre os artistas visuais que utilizam a técnica artesanal do crochê para a idealização de seus trabalhos e que já os expuseram em espaços artísticos-culturais, destacam-se: as brasileiras Anne Galante, Karen Dolorez, Tainá Denardi, a polonesa Agata Olek e o brasileiro Ernesto Neto.


Portando, o crochê, entre suas linhas, pontos e desenhos, por vezes complexos, encontra na arte contemporânea uma terra fecunda para não só a criatividade artística, mas também para incitar a evocação dos sentidos por parte do espectador, desafiando-o a sair de sua zona de conforto ou inércia, provocando ao movimento. Ao agir.

 
 
 

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