Cultura é Sustentabilidade: o papel da educação cultural na construção de futuros possíveis
- Laryssa Lima

- 25 de set.
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Como a valorização da cultura e a formação cidadã estão no centro da agenda dos ODS e do desenvolvimento sustentável.
Por Laryssa Lima

A sustentabilidade cultural se apresenta como um conceito essencial para a preservação da riqueza da humanidade e para a construção de um futuro mais justo, inclusivo e diverso. Diferente da ideia limitada que associa sustentabilidade apenas ao meio ambiente, a sustentabilidade cultural vai além da preservação de bens materiais, englobando também a proteção de expressões culturais, dos saberes tradicionais, das identidades coletivas e da diversidade cultural em todas as suas formas. É um compromisso que não se limita ao presente, mas que projeta para as próximas gerações a possibilidade de conviverem em um mundo em que valores, tradições e identidades socioculturais continuem vivos, respeitados e celebrados.
A definição de sustentabilidade cultural envolve a preservação e o desenvolvimento de práticas e valores que, ao mesmo tempo em que respeitam a tradição, permitem inovação e adaptação às transformações sociais, econômicas e ambientais. Ao valorizar a diversidade cultural, garantimos não apenas o fortalecimento da identidade coletiva, mas também o bem-estar das comunidades, já que a cultura é um elemento fundamental na construção da cidadania, da coesão social e do sentimento de pertencimento.
Não por acaso, a Agenda 2030 da ONU reconhece a cultura como um pilar estratégico para a conquista dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. A cultura contribui diretamente para a erradicação da pobreza, a proteção do meio ambiente, a promoção da paz e da justiça, e para a construção de sociedades mais resilientes. O mesmo entendimento já estava presente na Convenção do Patrimônio Mundial da UNESCO, em 1972, que reforça a importância da preservação do patrimônio material e imaterial para o equilíbrio e o desenvolvimento sustentável. Assim, proteger a cultura significa proteger a própria humanidade, pois cada língua, cada ritual, cada celebração e cada expressão artística representam a memória coletiva e o futuro compartilhado.
Os direitos culturais são também parte dos direitos humanos fundamentais, conforme reconhecido pela Declaração Universal de 1948. Isso significa que todo indivíduo tem o direito de participar da vida cultural de sua comunidade e de usufruir da liberdade de expressão. Negar esse direito, ou desconsiderar a relevância da cultura, é enfraquecer as bases da democracia e perpetuar exclusões. Essa negação pode ocorrer por ignorância, preconceito, desinformação ou ideologias que buscam homogeneizar e apagar diferenças. O resultado é a perda da identidade, a fragilização dos laços sociais e o empobrecimento da criatividade e da inovação.
No entanto, a sustentabilidade cultural não é apenas defesa contra ameaças, mas também promoção ativa da diversidade. Ela exige políticas públicas que garantam acesso à cultura para todos, que incentivem a preservação do patrimônio histórico e dos saberes tradicionais, apoiem a valorização das manifestações populares e fomentem a produção cultural contemporânea. A educação desempenha aqui um papel central, pois é desde a infância que se deve cultivar o respeito pela diversidade, estimulando o diálogo intercultural e a tolerância. As indústrias criativas, como o cinema, a literatura, o teatro e a música, também são fundamentais nesse processo, não apenas pela geração de renda e emprego, mas por seu impacto na identidade e na coesão social.
A cultura, além de memória, é motor de transformação. Quando apoiamos os povos indígenas na preservação de seus territórios e saberes, quando combatemos o racismo e a xenofobia, quando promovemos o intercâmbio cultural entre países e comunidades, estamos fortalecendo uma rede global de solidariedade que amplia horizontes e constrói pontes entre diferentes visões de mundo. Nesse sentido, negar a cultura é negar o futuro. E, como nos alerta Ailton Krenak, é preciso “adiar o fim do mundo” com práticas que preservem a vida em todas as suas dimensões, incluindo a cultural.
O futuro da sustentabilidade cultural depende, portanto, do reconhecimento de que a diversidade é a maior riqueza da humanidade. Não basta preservar museus, monumentos ou obras de arte; é necessário garantir que tradições vivas, como festas populares, línguas ameaçadas de extinção e saberes tradicionais, sejam respeitados e transmitidos. É igualmente urgente combater discursos de ódio e desinformação que buscam enfraquecer a diversidade cultural e impor visões únicas. O fortalecimento da sociedade civil, o investimento em cultura e a implementação de políticas públicas inclusivas são caminhos indispensáveis para esse propósito.
Assim, a sustentabilidade cultural se revela como pilar indispensável para o desenvolvimento humano e social. Investir em cultura é investir em dignidade, em inclusão e em futuro. É permitir que tradições ancestrais coexistam com inovações contemporâneas, que identidades minoritárias sejam respeitadas e que todas as vozes possam ser ouvidas. Afinal, sem cultura não existe sustentabilidade, e sem diversidade não existe humanidade. A preservação cultural não é um luxo, mas uma necessidade para que possamos construir sociedades mais prósperas, equitativas e humanas, capazes de florescer em toda a sua pluralidade.




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