Orgulho em Movimento: Avanços, Desafios e Resistências da Comunidade LGBTQIAPN+ no Brasil e no Mundo
- Cássia Naldi
- 27 de jun.
- 3 min de leitura
O artigo propõe uma reflexão crítica sobre o atual cenário do movimento LGBTQIAPN+ no Brasil e no mundo, analisando os avanços em políticas públicas, o impacto cultural e social da representatividade e a consolidação do Mês do Orgulho como marco político e simbólico. Também aborda os desafios enfrentados, como o crescimento de discursos de ódio, retrocessos legislativos e a importância da resistência coletiva.
Por Cássia Naldi e Juliana Oliveira

Nas últimas décadas, o movimento LGBTQIAPN+ conquistou avanços significativos em diversas partes do mundo. Países como Canadá, Espanha, Alemanha e África do Sul implementaram leis que garantem o casamento igualitário, a adoção por casais homoafetivos e a criminalização de atos de homofobia e transfobia. Contudo, essa expansão dos direitos não é uniforme: em muitos lugares, especialmente em partes da África, do Oriente Médio e da Ásia, ainda há leis que criminalizam a homossexualidade, com penas que variam de prisão à pena de morte.
Além disso, o avanço de políticas ultraconservadoras e o crescimento de movimentos anti-direitos têm acentuado a polarização social e política, desafiando as conquistas do movimento LGBTQIAPN+. A resistência, por sua vez, tem se fortalecido por meio de redes globais de ativismo, ONGs, ações culturais e articulações interseccionais que unem diferentes causas, como feminismo, antirracismo e direitos humanos.
O Brasil é um país de contrastes profundos quando se trata de direitos LGBTQIAPN+. Por um lado, lidera rankings internacionais de violência contra pessoas LGBTQIAPN+, especialmente contra pessoas trans e negras. Por outro, protagonizou conquistas importantes, como a criminalização da LGBTfobia (equiparada ao crime de racismo pelo STF em 2019) e o reconhecimento da identidade de gênero sem necessidade de cirurgia ou laudos médicos.
No entanto, a ascensão de discursos religiosos fundamentalistas e políticos conservadores têm colocado em risco essas conquistas. Projetos de “cura gay”, resistência à educação sexual nas escolas e a invisibilização das pautas trans e não-binárias revelam o quanto os direitos LGBTQIAPN+ ainda não estão plenamente consolidados. A militância segue sendo uma ferramenta essencial para garantir o avanço de políticas públicas, proteção legal e respeito à diversidade.
O Mês do Orgulho LGBTQIAPN+, celebrado em junho, tem raízes no levante de Stonewall (Nova York, 1969), quando pessoas LGBTQIAPN+, em sua maioria negras, latinas e trans, resistiram à violência policial. Desde então, junho se tornou um período simbólico para visibilidade, resistência e celebração das identidades LGBTQIAPN+.
No Brasil, as Paradas do Orgulho têm crescido em número e impacto. A Parada de São Paulo, por exemplo, é uma das maiores do mundo. Entretanto, críticas surgem quanto à “comercialização” do orgulho, onde empresas utilizam a estética LGBTQIAPN+ para fins de marketing (pinkwashing), muitas vezes sem compromisso real com a causa.
A verdadeira essência do orgulho não é apenas festa ou consumo: é memória, luta e enfrentamento das estruturas que historicamente marginalizam esses corpos.
A cultura é uma ferramenta poderosa na transformação social. A presença de personagens LGBTQIAPN+ em filmes, novelas, séries e reality shows contribui para a naturalização da diversidade e para a construção de referências positivas. Figuras como Linn da Quebrada, Erika Hilton, Pabllo Vittar e outros têm se tornado ícones de representatividade.
Contudo, ainda há desafios: muitos personagens LGBTQIAPN+ são tratados de forma estereotipada ou como alívio cômico. Além disso, a representatividade ainda é escassa em cargos de poder, nas empresas, na política e na mídia tradicional. É preciso que a diversidade representada seja real, plural e interseccional.
Apesar dos avanços, a LGBTQIAPN+fobia ainda é estrutural. A exclusão no mercado de trabalho, a evasão escolar, o alto índice de suicídio entre jovens LGBTQIAPN+ e a violência policial são sintomas de um sistema que oprime identidades dissidentes.
Uma das respostas mais urgentes está na educação inclusiva e afetiva: promover ambientes escolares seguros, com abordagens sobre identidade de gênero, sexualidade e respeito à diversidade é essencial para quebrar ciclos de preconceito. Além disso, a criação de políticas públicas específicas, como o acesso à saúde integral, acolhimento para pessoas LGBTQIAPN+ em situação de rua, e cotas para pessoas trans em universidades e no serviço público, são caminhos efetivos de reparação.
Por fim, o fortalecimento das redes de apoio, sejam elas familiares, coletivas, espirituais ou comunitárias, permite que a comunidade LGBTQIAPN+ encontre espaços de acolhimento e fortalecimento, para seguir resistindo e existindo com dignidade.
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