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O papel social do produtor cultural

  • Foto do escritor: Carla Guimarães
    Carla Guimarães
  • 5 de abr. de 2024
  • 2 min de leitura

Não é fácil ir contra o sistema, ou pelo menos questionar suas estruturas e instituições, mas é importante lembrar que omitir-se também é uma escolha.


Carla Guimarães



O produtor cultural é o profissional responsável por elaborar, gerir e executar eventos, atividades, projetos ou espaços culturais. Sua atuação pode abranger uma das fases da dinâmica cultural (produção, distribuição, troca e uso) ou estar presente em todas elas. No entanto, limitar a função de um produtor cultural dessa maneira é reducionista diante de sua importância social.


Para compreender o papel social de um produtor, é necessário entender a principal força motriz de seu trabalho: a cultura. Cultura, conforme definido pelos Estudos Culturais, é um campo privilegiado de disputas simbólicas e de afirmação de identidade, que engloba ações, manifestações verbais e objetos significativos de vários tipos, inserido num contexto social estruturado. Em outras palavras, a cultura é muito mais ampla do que obras de elevação de espírito e civilização, ou relacionada apenas a manifestações artísticas, sendo um espaço com posições, regras e convenções definidas, mas também em constante disputa e em construção, tendo um caráter estruturado e estruturante.


Assim, quando um produtor cultural decide viabilizar um projeto específico, está escolhendo manter certos tipos de relações sociais estruturadas ou questioná-las por meio de sua atuação. Por exemplo, quando um produtor de um espaço cultural enfatiza a importância de um consultor de acessibilidade em seu projeto, está rompendo com algumas dinâmicas estruturais de relação de poder, como o capacitismo e o preconceito contra pessoas com deficiência, entre outros. No entanto, ao não dar valor a essa questão em seu projeto, está contribuindo para manter exatamente essas relações. Isso também se aplica aos conteúdos e manifestações artísticas escolhidos, à justificativa para a elaboração do projeto, à equipe contratada, entre outros aspectos.


Contudo, o produtor cultural trabalha com cultura, ou seja, de certa forma, ele é quem viabiliza os temas que serão discutidos, reforçados ou questionados por meio de seu trabalho. É claro que não se pode ignorar o fato de que o produtor também sofre influência das instituições sociais e da economia, que tentarão definir os assuntos discutidos pela sociedade através de sua capacidade de atuação. No entanto, o papel e a importância do produtor cultural residem exatamente em romper com essas estruturas e trazer assuntos e temas à tona.

Portanto, o produtor não pode simplesmente produzir por produzir, ou seja, atuar de forma despreocupada com o contexto social em que está inserido, pois isso também é uma escolha por perpetuar certas relações de poder. No entanto, o produtor cultural que realmente compreende a sua atuação na sociedade está preocupado com o que entrega, para quem entrega, aonde essa entrega chega e como ela chega, de modo a questionar, pelo menos, a estrutura social na qual está inserido.


Infelizmente, vemos muitos produtores apenas alimentando o sistema sem questionar as estruturas por trás dele. Da mesma forma, vemos muitos outros, de forma voluntária, ou seja, sem remuneração pelo seu trabalho, lutando incansavelmente para quebrar paradigmas e algumas relações de poder. Não é fácil ir contra o sistema, ou pelo menos questionar suas estruturas e instituições, mas é importante lembrar que omitir-se também é uma escolha.



 
 
 

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