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A responsabilidade social do produtor cultural

  • Foto do escritor: Bia Ramsthaler
    Bia Ramsthaler
  • 18 de abr. de 2024
  • 3 min de leitura

Qual é o seu papel?



Há uma clara provocação nesta escrita porque a ideia que me orienta, como autora, é de que às vezes é preciso mexer nas estruturas já estabelecidas para que possamos modificar um comportamento já introjetado e orgânico, mas que também envelhece.

Bia Ramsthaler


Um produtor cultural, seja ele responsável por projetos de pequeno, médio ou grande porte, tem enorme responsabilidade sobre a prática artística que se propõe a desenvolver. Sendo uma criação própria ou de terceiros - um produtor cultural pode ser um criador ou um profissional contratado para atuar na viabilização e/ou gestão de um projeto, há elementos fundamentais que compreendem a elaboração e o planejamento da proposta de forma a garantir à sociedade o acesso a direitos fundamentais. As escolhas frente à prática adotada pelo projeto passam pela decisão do produtor e por isso precisam ser pensadas sob a ótica da ética profissional e da responsabilidade social.


Chamar o produtor à sua responsabilidade é matéria ousada. Sim, muitos deles, preocupados em apenas viabilizar as suas propostas, esquecem em meio à rotina intensa do dia a dia que podem contribuir para garantir o acesso e o direito à cultura. Aliás, vale reforçar que este não é apenas um dever do Estado, mas é um dever de qualquer profissional que tenha sob sua responsabilidade o direito de decidir sobre a forma como a prática cultural acontece.


Há uma clara provocação nesta escrita porque a ideia que me orienta, como autora, é de que às vezes é preciso mexer nas estruturas já estabelecidas para que possamos modificar um comportamento já introjetado e orgânico, mas que também envelhece.


Quando o projeto a ser planejado depende de apoio de políticas públicas como nos casos de projetos incentivados ou orientados por editais diretos, esta conversa ganha ainda mais importância. O Estado, ao aprovar este ou aquele projeto, não tem por foco o apoio exclusivo ao produtor, mas a garantia do direito democrático de acesso à experiência cultural por um perfil de público plural.


As ações de acessibilidade para pessoas com deficiência, o desenvolvimento de práticas de democratização de acesso ou a criação de pautas de contrapartidas sociais são o foco desta provocação. Desenvolver apenas ações mínimas e obrigatórias orientadas pela legislação e com base na utilização de modelos pré-existentes, sem pensar nas especificidades da prática cultural, não faz o seu projeto acessível ou democrático sob o olhar e o valor contidos na real concepção destas pautas. Desenvolver ações mínimas apenas para cumprir a lei não responde ao comportamento socialmente responsável que estamos aqui colocando em pauta.


Acessibilidade é linguagem e por isso deve ser pensada desde a concepção criativa do projeto. Acessibilidade não é anexo, apêndice, mas parte da construção artística do projeto. Se o projeto é concebido desde o início sob a lógica da língua portuguesa, por que ele não é pensado também sob a lógica das outras linguagens que ampliam o acesso à experiência artística? Entender as necessidades do público é parte fundamental e primária na concepção de qualquer projeto. Você fala para quem?


Democratizar e descentralizar também é pauta importante que garante não apenas o direito à fruição cultural, mas à formação do público. De que adianta falarmos nas conversas entre pares sobre o esvaziamento das salas de teatro e não contribuirmos efetivamente para a construção de ações responsáveis que visem a formação de plateia com base na garantia dos direitos de acesso do cidadão à experiência e fruição cultural? Sob esta mesma ótica, de que adianta uma palestra qualquer para uma contrapartida social se não entendermos que é pelo contato sensível com a arte que podemos quebrar barreiras e ampliar o acesso ao público? Não é só o público que quer a experiência artística. A experiência artística também precisa do público. É uma via de mão dupla. Mais do que cumprir obrigação é preciso que comecemos a pensar sobre a nossa responsabilidade diante da prática artística que nos propomos a empreender. Se não pensarmos no amanhã, estaremos sempre presos invariavelmente ao apoio do Estado para realizar nossas ações artísticas.


Na relação Estado, projeto e empresas patrocinadoras, nenhuma destas três variáveis resiste se não inserirmos em nossa prática o personagem principal: o PÚBLICO. É SEMPRE PARA ELE A ARTE.

 
 
 

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