Reflexão sobre um monarca invisível no poder, a identidade
- Juliana Oliveira
- 18 de mar. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 26 de fev.

Segundo o filósofo José Luis Pardo, “respeitar a diferença significa deixar que o outro seja como eu não sou, deixar que ele seja esse outro que não pode ser eu, que eu não posso ser, que não pode ser um outro eu.” Todavia, nota-se que hoje em dia, ainda tratamos a identidade como algo natural ao ser humano, ao invés de mera criação cultural e social. Desse modo, a difusão alienada da reprodutibilidade de comportamentos e pensamentos mascarados de atitudes inofensivas, privam a sociedade de encarar esse conceito como produção social atrelada às relações de poder.
Primeiramente, podemos afirmar que a identidade é resultado de criações linguísticas. Devido a isso, ela tem de ser ativamente produzida, além de ser uma estrutura instável. Dessa maneira, para que exista, ou até mesmo, resista, a mesma está constantemente sujeita a relações de poder. Ademais, a identidade está fortemente inclinada a separar o “nós” do “eles”. Quando dividimos e classificamos os grupos sociais, inevitavelmente geramos um processo de hierarquização.
Como disse o filósofo francês Jacques Derrida, quando geramos uma oposição binária, um dos termos é sempre privilegiado, recebendo um valor positivo, enquanto o outro recebe uma carga negativa. Ainda, quando tentamos solucionar esse processo incentivando uma normalização, implicitamente elegemos uma identidade específica como parâmetro em relação às outras.
Somado a isso, analisando a ideia da performatividade, que desloca a ênfase na identidade como descrição, para a ideia de tornar-se, ou seja, para uma concepção da identidade como transformação, percebemos que algumas sentenças descritivas acabam funcionando como performativas na medida em que sua repetida enunciação pode acabar produzindo o que supostamente descreve.
Dessa maneira, a repetibilidade da escrita e da linguagem é o fator que se combina ao caráter performativo, fazendo com que a escrita e a linguagem trabalhem no processo de produção de identidade. Sendo assim, uma citação reproduzida que recoloca em ação o enunciado performativo, quando reforça aspectos negativos, reforça negativamente uma identidade cultural.
Portanto, se utilizarmos a ferramenta da repetibilidade para o bem, pararemos a engrenagem que reproduz há tempos os mesmo problemas e criaremos um catalisador que impulsionará o bem social. Desse modo, segundo a filósofa Judith Butler, a mesma repetibilidade que garante a eficácia dos atos performativos que reforçam as identidades existentes, pode significar também, a possibilidade de interrupção das identidades hegemônicas. É essa possibilidade de efetuar uma parada no processo de citacionalidade que caracteriza os atos performativos que reforçam as diferenças instauradas, e tornam possível pensar na produção de novas identidades, favorecendo toda experimentação que torne difícil o retorno do eu e do nós ao idêntico.
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